É com profundo pesar que a Academia Espírito-Santense de Letras comunica o falecimento do Dr. Aylton Rocha Bermudes, o mais antigo membro desta instituição cultural, ocorrido no dia 10 de março de 2021, aos 99 anos de idade. Além da longevidade, Aylton Rocha Bermudes foi um dos membros mais ativos desta Academia, tendo exercido notável atividade nas letras, na imprensa e na área jurídica. Ele ocupava a cadeira número 4 da Academia, que tem como patrono Ulisses Teixeira da Silva Sarmento.
Nascido no Distrito de Timbuí, Fundão, em 24 de julho de 1921, Aylton Rocha Bermudes iniciou sua produção literária em prosa e verso nos tempos de seminário. A partir de 1943, radicou-se em Cachoeiro de Itapemirim, dedicando-se ao magistério secundário como professor de Francês, Português, Latim e Filosofia. Conquistou a cátedra de Francês e Literatura Francesa do Colégio Estadual Muniz Freire, o Liceu, em Cachoeiro de Itapemirim, com a tese "La question du Participe", defendida e aprovada em concurso público de provas e títulos, no ano de 1950. Foi diretor do Liceu, Colégio Estadual Muniz Freire. Nessa cidade, colaborou nos jornais Arauto e Correio do Sul, de que foi redator por algum tempo, e fundou o jornal O Momento, com o professor Virgílio Milanez. Exerceu intensa atividade como advogado e foi procurador judicial da Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim.
Em 1964, transferiu-se para Vitória a fim de exercer o cargo de secretário de Interior e Justiça. Lecionou Português e Literatura Portuguesa no Colégio Estadual do Espírito Santo. Publicou Discurso de posse, pela Editora Borsoi, do Rio, na Academia Espírito-santense de Letras, para a qual foi eleito em 1974. Escreveu artigos e crônicas para o jornal A Gazeta e proferiu palestras e estudos. Exerceu os cargos de procurador do Estado e consultor jurídico do Tribunal de Contas, em que se aposentou. Foi sócio correspondente da Academia Cachoeirense de Letras, colaborou com textos em prosa e verso nos livros Torta capixaba (II) e Escritos entre dois séculos e participou da comissão de juristas que preparou o anteprojeto da Constituição Estadual de 1989. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, em cuja revista estampou diversos trabalhos de sua autoria. Em 1998, publicou o romance Nos sulcos do tempo, Vitória: Editora Grafer.
A presidente da Academia Espírito-Santense de Letras, Ester Abreu Vieira de Oliveira, lembra que conheceu o professor Aylton no período em que ele lecionava no Colégio Estadual. "Ele era dono de uma prosa amável, tinha memória prodigiosa, gostava de francês e sabia poemas de cor. Nas reuniões estava sempre sorrindo e participativo. Vai deixar muitas saudades", afirma.
De sua produção literária, a AEL destaca este trecho de seu romance Nos sulcos do tempo, no qual o professor versa sobre a eterna busca do ser humano pela felicidade: "Na procura da felicidade é indispensável a convicção de que ela não vem completa, em estado puro, que sua veste de luz se cobre, às vezes, de sombra e que não se pode gozá-la sem uma parcela de inquietação. O poeta se enganou: 'A felicidade está apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos'. Existe, sim, e a alcançamos, mas aos poucos, em fragmentos, em porções descontínuas, mesclada de frustrações e pesar, reflexos de luz na treva, instantes de compreensão, de amor e paz."
Por meio desta nota, a Academia Espírito-Santense de Letras presta suas condolências aos familiares do Dr. Aylton Rocha Bermudes e reconhece a sua imensa contribuição para a literatura e a cultura do Espírito Santo.