A Academia Espírito-santense de Letras divulga abaixo os textos vencedores do Concurso “Eu e o meu futuro”, realizado entre estudantes da rede municipal de ensino de Vitória. Os estudantes vencedores foram premiados no dia 4 de setembro, em evento comemorativo dos 103 anos de fundação da instituição. Depois de uma pré-seleção feita nas escolas a comissão do concurso recebeu 65 textos para avaliar. Foram premiados os três primeiros lugares de cada nível escolar e concedida uma menção honrosa em cada nível. Segundo o coordenador do concurso, acadêmico Jonas Reis, o resultado foi positivo e demonstra a importância da promoção, que “aproxima a Academia da comunidade e incentiva os jovens a pensarem sua realidade”.
Na turma do 7º ano, onde Bianca estuda, a situação é quase sempre a mesma: os professores pedem as atividades da aula anterior, mas poucos alunos as fazem, exceto 6 ou 7, incluindo Bianca e Valentina, que são orientadas pela família a serem comprometidas. Samanta, professora de Língua Portuguesa, decide usar uma estratégia diferente para incentivar os alunos a estudarem. Ela revisa os conteúdos de gramática e anuncia:
- Os alunos que tirarem entre 8 e 10 na avaliação de sexta-feira irão comigo a um passeio no Convento da Penha.
- Não tem outro lugar melhor, professora? - grita Pedro, o mais agitado da turma.
- O convento é uma das sete maravilhas do nosso estado, tombado como patrimônio histórico-cultural pelo IPHAN em 1943.
- Se está tombado, não há o que visitar, professora. Tô fora! - gargalha Luciano.
- Tombamento é um reconhecimento e proteção de um - patrimônio cultural - explica Bianca.
- Olha a nerd sabichola! - debocha Monique.
-Não sou nerd - retruca Bianca - apenas leio sobre assuntos que me interessam.
O sinal toca, encerrando a aula. Os alunos vão para casa.
Às 15h, Bianca chama a turma no grupo de WhatsApp para estudar para a avaliação, pois quer muito conhecer o Convento da Penha. A maioria prefere zapear ou jogar, mas os mesmos 7 alunos decidem estudar. Eles formam um grupo e debatem os conteúdos, criando perguntas e respostas sobre gêneros textuais, termos essenciais da oração e o paradidático que leram juntos.
Na sexta-feira, dia da avaliação, todos os alunos fazem a prova em silêncio. A professora observa um grupo suspeito. Uma semana depois, Samanta entrega as avaliações:
- Bianca, Valentina, Gustavo, Francisco, Apolo, Júlio e Amanda, vocês irão comigo ao Convento da Penha e à Fábrica da Garoto na próxima sexta-feira. Iremos pela Baía de Vitória, usando o Aquaviário.
- Vamos de barco, professora? - indaga Gustavo.
- Vamos sim, Gustavo!
Pedro, do fundo da sala, grita:
- Por que só eles vão ao passeio, se todos tiramos notas acima de 8?
- Como sabe que todos tiraram notas acima de 8, Pedro? - questiona a professora.
- Eles me contaram pelo zap - disfarça o aluno.
- Assim como contaram as respostas da avaliação? - debocha a professora.
- Quem co-lou? - gagueja Monique.
A professora explica que estranhou a turma estar tão calma e observou alguns alunos trocando informações pelo celular. Apolo, um dos alunos aplicados, levanta a mão e lamenta:
- Acho que a culpa é minha, professora.
- Por quê, Apolo? - indaga Valentina.
- Lembra que fizemos várias perguntas sobre os conteúdos a estudamos muito?
- Lembro sim - responde Bianca.
- Eu repassei as questões com as respostas para o grupo principal. Queria que eles estudassem e fossem ao passeio conosco - lamenta chorando.
- Você não fez nada de errado, Apolo. É bom tentar ajudar, mas eles não quiseram estudar e preferiram trapacear - comenta a professora. Conhecimento se adquire estudando e compartilhando. Não podemos abusar de bondade dos colegas e agir irresponsavelmente. Espero que tenham aprendido a lição. Aproveitem os questionários e estudem de verdade, pois na próxima sexta-feira, enquanto estivermos no passeio, vocês farão outra avaliação, acompanhados pela coordenação.
A turma emudece. Valentina entrega as autorizações para os alunos que irão ao passeio e as advertências para os que colaram. A professora encerra:
- Na quinta-feira, recolho as autorizações do passeio e a coordenação recolherá as advertências dos alunos que farão outra avaliação.
O sinal toca e Bianca comenta com Valentina:
- Entende a importância de levarmos o estudo a sério? Além de nos tornarmos cultas e ter um bom emprego no futuro, podemos sair da rotina escolar.
- Verdade, amiga! Estou muito feliz por ir ao passeio e por ter tirado uma boa nota!
- Eu também! - vibra Bianca, lembrando das palavras da professora:
“Pessoas sem conhecimento podem ser manipuladas por outras. Buscar conhecimento é uma forma de defesa.” Bianca comenta com a amiga:
- A professora tem razão.
- Sobre o quê, Bia? - pergunta curiosa Valentina.
- Sobre a importância de levar o estudo a sério para ter um bom futuro! - enfatiza Bianca.
- Com certeza! - finaliza Valentina.
Planejar o futuro não é algo fácil, mas imagine como seria legal se encontrar com o seu
“eu” do futuro. Acho que todos já pensaram nisso ao menos uma vez, certo?
Eu me deitei na cama e fechei os olhos. Nos meus fones tocava “Je Te Laisserai Des Mots”. Música muito boa, por sinal.
Me imaginei na Ilha das Caieiras, recitando meus poemas como ninguém, como eu sempre quis recitar. Cada estrofe, verso, rima, me dava esperança de que alguém, algum dia, iria me escutar.
Havia pessoas em minha volta sorrindo escutando atentamente. Eu estava ansiosa, mas uma felicidade também me consumia. O brilho nos meus olhos era nítido. Eu recitava sem errar uma letra sequer.
Naquele momento, senti algo estanho. Era parecido com um deja vu, mas não era como se eu tivesse feito isso antes, era como se eu soubesse que isso iria acontecer. De um jeito ou de outro, em qualquer lugar, pra qualquer pessoa.
Acho que finalmente descobri meu alicerce para construir meu futuro.
Sou uma pessoa com pouca condição financeira e, consequentemente, poucas oportunidades na vida. Sempre fiz de tudo para aproveitar essas poucas chances. Um exemplo disso é a prova da OBMEP, tirei horas do meu dia, deixei de fazer coisas básicas, como comer ou dormir, apenas para estudar os conteúdos dessa prova. Outro exemplo é o treinamento militar que eu fiz de tudo para ganhar e realmente consegui.
Também estou estudando para o ENEM, que eu sei que no momento não poderei fazer por ser muito nova, mas, como sei que em breve poderei, já estou estudando. Além disso, sempre procurei oportunidades como cursos gratuitos ou até mesmo locais para fazer jovem aprendiz para me ajudar e poder ajudar meus pais em casa. Tudo que estava e está ao meu alcance eu fiz e faço.
Sei que meu futuro não será fácil, mas também não será tão difícil. Tenho o sonho de fazer faculdade de gastronomia ou ser bombeiro militar. Nenhuma dessas opções de futuro que eu escolhi serão fáceis, principalmente bombeiro militar.
Meus pais sempre me apoiaram, motivaram e incentivaram a seguir meus sonhos, correr atrás e não desistir nunca. Eles sempre me disseram para me esforçar ao máximo, mas para nunca esquecer de mim mesma e para às vezes deixar os estudos um pouco de lado para me cuidar, viver minha vida e me divertir. Se eu conseguir seguir a profissão que quero e “vencer” na vida, eu devo eternos agradecimentos à minha família e, principalmente, às oportunidades que a vida deu.
Meu querido futuro, eu tenho muitos planos para você. Espero conseguir realizar todos.
Às vezes fico muito ansiosa e com um pouco de medo do que você tem para mim, mas, espero que seja algo bom.
Eu tenho vários sonhos, alguns são difíceis e outros não, porém, sei que com bastante esforço, consigo realizar até o mais difícil.
Ainda tenho muitas dúvidas sobre mim, acho que eu consigo responder algumas até a minha adolescência, ou não, nunca se sabe.
Eu já tive várias fases e vários estilos, algumas pessoas dizem que eu estou chegando na pior fase, que é a adolescência.
Eu pretendo fazer vários amigos, aprender coisas novas e quem sabe eu até me case um dia.
Eu já pensei sobre várias profissões, porém, é muito difícil escolher uma, afinal, são muitas opções. Por enquanto eu ainda estou tentando achar o meu lugar nesse universo e isso depende das escolhas que eu vou fazer agora.
Um dia eu ouvi a seguinte frase: “Escolha isso ou aquilo, você vai se arrepender”, essa frase está correta, afinal, não existe futuro sem arrependimentos. Não importa o quanto você tente, você vai se arrepender de alguma coisa, então, eu sei que eu tenho muitas escolhas pela frente, espero não me arrepender de todas.
Eu estou muito ansiosa para o meu amanhã, independentemente dos arrependimentos futuros.
Era uma tarde quente, dessas que fazem a cidade pulsar com uma energia quase elétrica.
João, um garoto de 14 anos, estava sentado na praça central, perdido em seus pensamentos. Os cadernos escolares estavam ao seu lado, esquecidos por um momento, enquanto ele olhava para o céu, imaginando um futuro brilhante e cheio de possibilidades. João sempre foi um garoto diferente dos outros. Enquanto seus amigos sonhavam em ser jogadores de futebol ou engenheiros ou geólogo, ele queria algo mais, algo que combinasse com a sua paixão pela justiça com seu amor pelo palco. Desde pequeno, adorava assistir peças de teatro, encantado com a forma como os atores podiam se transformar em qualquer coisa: heróis, vilões, reis ou plebeus. Ao mesmo tempo, ficava fascinado pelas histórias de advogados defendendo os injustiçados nos filmes e séries que via com sua mãe. Parecia-lhe que, de alguma forma, o direito e a atuação estavam conectados por um fio invisível, um laço que ele ainda não conseguia entender completamente, mas que sentia profundamente. Um dia, durante uma dessas reflexões na praça, João confidenciou seus sonhos à bibliotecária da sua escola, Meg. Ela era uma mulher sábia, com cabelos grisalhos e um sorriso acolhedor, que sempre incentivava seus leitores a seguir seus corações. “Quero fazer artes cênicas e direito, tia Meg. Sei que parece loucura, mas eu sinto que preciso ser os dois”. Meg, com sua calma habitual, olhou para João e disse: “Sabe, João, não existe sonho louco quando ele vem do coração. A vida é uma grande peça de teatro, e às vezes somos chamados a desempenhar vários papéis. Ser ator e advogado pode parecer distante, mas ambos têm algo em comum: a arte de contar histórias e a busca pela verdade. Um bom advogado, como um bom ator, precisa saber se expressar, entender as emoções humanas e, acima de tudo, acreditar naquilo que está defendendo”. As palavras da bibliotecária ecoaram na mente de João nos dias que se seguiram. Ele começou a enxergar seus sonhos com mais clareza. Percebeu que, ao estudar direito, poderia entender melhor a complexidade da vida, os dilemas morais e as nuances da justiça. E, ao mergulhar nas artes cênicas, aprenderia a expressar essas emoções de maneira autêntica, tocando o coração das pessoas, seja no palco de um teatro ou no tribunal. Assim, João seguiu seu caminho, dedicando-se aos estudos com afinco, mas sem nunca deixar de lado a paixão pelo teatro. Participava das peças da escola, dava vida a personagens complexos e emocionava o público com sua entrega. Ao mesmo tempo, devorava livros de direito, fascinado pelas histórias de grandes juristas e pelas questões éticas que permeavam a sociedade. Os anos passaram, e João cresceu, tornando-se um jovem talentoso, tanto no palco quanto na advocacia. Ele percebeu que não precisava escolher entre um sonho e outro, mas sim integrar ambos em sua vida. Afinal, ser advogado e ator era, para ele, duas faces da mesma moeda: a moeda da empatia, da compreensão e do desejo de fazer a diferença no mundo. E assim, João seguiu sua jornada, provando a todos, mas principalmente a si mesmo, que os sonhos mais inusitados podem se tornar realidade quando se tem coragem de acreditar neles.
Ele não era apenas um garoto com grandes ambições loucas, mas um exemplo de que, com determinação e paixão, podemos ser tudo aquilo que desejamos, por mais improvável que pareça.
Ser um adolescente nunca foi fácil e nem será, pois essas criaturas vivem rodeadas de uma monstruosidade de conflitos internos. Comprovo esse inferno interior avaliando a vida dos colegas e a minha. Na verdade, a dificuldade não é somente por causa da idade e dos hormônios que explodem dentro de nós, mas também pelo fato de vivermos em bairros pobres e agitados, onde facções rivais disputam territórios, causando terror, medo e incertezas entre os moradores, que não conseguem abandonar suas moradias, pois não possuem recursos financeiros para iniciar uma nova vida em um lugar melhor. Confio que, um dia, minha sorte mudará, porque estou lutando para isso. E essa batalha começa bem cedo.
Toda manhã é uma correria desenfreada. Acordo às 5h30, tomo um banho frio para começar o dia com o corpo leve e fresco. Bebo um café mixuruca e ponho asas nas pernas, senão perco o ônibus, que não arrisca nenhum segundo esperando alguém.
Chego à escola com o coração sambando mais rápido que a Unidos do Jucutuquara. Ao entrar na sala, sempre me deparo com os professores pedindo silêncio aos alunos tagarelas. Hoje, nada está diferente. Emília Rosa, a professora de projeto de vida, que iniciou a primeira aula, solicita:
- Silêncio, turma!
A turma se acalma enquanto me sento e me ajeito. Ela então expõe a pretensão de sua aula:
- Hoje, vamos fazer uma atividade diferente. Quero que vocês se sentem em duplas e escrevam sobre como acham que é a vida de seus parceiros fora da escola. Quando terminarem, troquem os papéis e reflitam sobre o que cada um escreveu sobre você.
- Poxa, Michelly, que tarefa difícil, hein? - comenta meu colega de classe, Pedro.
- Nem me fale, Pedro. Mas acho que vai ser interessante ver como os outros nos enxergam, né? - respondo, tentando me animar.
Depois de alguns minutos de silêncio, Pedro me entrega o papel com suas observações e eu faço o mesmo. Ao ler o que ele escreveu, surpreendo-me com toda a empatia que ele demonstrou a respeito de minha pessoa. Trocamos olhares e sorrimos. Percebi que muitas vezes julgamos as pessoas sem realmente conhecê-las.
Faltando uns 25 minutos para o fim da aula, a professora Emília nos convida a compartilhar nossas reflexões. A maioria dos alunos colocou situações incríveis sobre seus parceiros, pois estavam acostumados a avaliar os colegas pelos trajes que usavam ou pelas ações praticadas no decorrer das aulas. Muitos disseram que o colega teria uma vida maravilhosa e sem ranhuras, porque viviam conversando, brincando e rindo. Já outros disseram que a vida do colega não deveria ser muito legal, pois era tímido, sério e estudioso. O fato é que quase todas as especulações estavam erradas, pois a maioria da sala, assim como eu, vive nas periferias rodeadas por temíveis facções, que atormentam nosso cotidiano. Apenas 5 alunos da sala vivem em locais razoavelmente bem localizados.
Marcos, um dos meus colegas, se levanta e diz:
- Nunca sabemos o que o outro está passando, não é? Às vezes, um gesto simples pode fazer toda a diferença na vida de alguém.
As palavras que ouvi continuam ressoando na minha cabeça. Percebi que, apesar dos obstáculos, é possível encontrar um novo caminho rumo ao futuro através da compreensão e solidariedade. Refleti que mudar o mundo pode estar em ser mais gentil e compreensivo com o próximo e tomei a decisão de que, no meu futuro, deverá sempre existir a empatia seguida do acolhimento ao próximo. Sem dúvida, minha profissão não será só rentável, como também valorosa.
Há um menino que tem muitos sonhos. Um menino que é muito dedicado, protetor, gente boa, alegre, engraçado, esportivo, sagaz entre muitas outras coisas.
Esse menino sempre muito dedicado nos estudos por motivação de sua mãe e de suas tias, que fazem questão de lembrar a ele que muitas coisas são difíceis para uma pessoa preta. Mas que ser preto não é uma condição e nem uma sentença para desistir de realizar seus sonhos futuros. E com esse apoio, esse menino foi se tornando o melhor nas coisas que ele fazia. Como nos estudos, nas tarefas de casa, no esporte e em tudo que pediam para ele fazer.
Esse menino, então, foi querendo sempre ser o melhor nas coisas que ele fazia, porque ele sentia que finalmente, assim, conquistaria todo seu merecimento. Mas como tudo tem “dois lados da moeda”, começou a pensar que toda essa fixação por atenção podia ser boa, como ruim para o seu ser, que poderia se tornar algo vicioso e chato tanto para esse menino, quanto para quem vive ao seu redor. E o futuro desse menino? Ele, como toda pessoa, tem muitos sonhos. Tanto de profissão quanto pessoal. Os sonhos profissionais são muitos: ser jogador de vôlei profissional, perito criminal, ator e outros mais.
Mas diante de tudo que gostamos, tem algo que gostamos mais. Certo?
No vôlei esse menino consegue se desconectar do mundo em sua volta, desconectar de sentimentos que machucam seu ser e o fazem sentir-se confortável, confiante, com alegria impagável. Isso acontece também, porque o vôlei traz muito do seu passado...
E este menino espera que o futuro dele seja promissor e que ele esteja fazendo o que gosta de fazer. Sendo quem ele é e vivendo de modo que ele deseja.
Me sento à mesa e encaro esta folha por horas. A pressão que abafava meus sentidos cai sobre meus ombros como toneladas de chumbo.
Obrigada a fazer algo que neste momento não me apraz, pensar sobre o futuro sempre me apertou o peito. Espero uma vida serena, calma e plena, fazendo aquilo que a infância sonhava, porém, o que me aguarda? As tantas perguntas que não sei responder assombram minhas noites e sonhos, a principal delas me causa arrepios só de ouvir falar. Sou boa o bastante?
Vejo que o que me trouxe aqui perde o prumo, segue outro curso que eu posso - talvez - não querer cursar. Com minhas asas acorrentadas, pés, mãos e mente atadas e tantas coisas para pensar, IFES e vestibular, tudo que faço é pensar no que posso falhar. O que na infância não foi avisado traz ao meu eu presente a angústia de no meu futuro pensar. Isso é crescer?
Jogaram sobre mim pilhas de expectativas que não quero, não posso e nem vou atender. As respostas que tanto anseio são apenas um tomo com folhas em branco.