(Para o Prof. Dr. Maurício Massahiro Nishihata,
dedicado estudioso das Literaturas dos séculos
XVI e XVII na Península Ibérica.)
Juana Calancha, pedinte em Beas de Segura, povoado da província de Jaén, Andaluzia, Espanha, dizia ao povo que via anjos.
Era o que contava:
– O Arcanjo Gabriel, mais o anjo Rafael e São Miguel. Outros, também. Serafins e querubins. Um mundo de anjos com suas trombetas de prata. Vêm à noite, sim, me visitar. Vêm pela trilha das estrelas desde o Paraíso de Deus com seus jardins sempre floridos. Vêm até o convento das santas freiras descalças e me levam para longe daqui, ao mar de Málaga, às alamedas de Valência, à catedral de Toledo, a Madrid, Salamanca, Barcelona e Vigo. Visitamos o reino toda noite, sim...
Durante o dia Juana Calancha percorria a cidadela semeando histórias, mendigando moedas e alimentos dados pelas pessoas atentas às suas aventuras com anjos de Deus. No entardecer retornava ao convento para onde levava o que ganhara e onde dormia e de onde cedinho trazia às ruas e à pracinha do lugarejo passagens de suas viagens, abençoados voos nos céus de Espanha.
Vivia em Beas de Segura sob os cuidados das freiras Carmelitas Descalças por determinação de Madre Teresa de Jesus, a Superiora Geral da Ordem Religiosa, afeiçoada a Juana desde há alguns anos quando, encantada, conhecera a pedinte às voltas com os seus anjos, em Ávila de los Caballeros.
Bem se sabe que Juana era mulher alta e magra de rosto fino quase triangular sob a cabeleira grisalha devidamente penteada. Trazia consigo um olhar esperto de pessoa falante, seu sorriso amigo nos lábios, mais os braços agitados, mãos de dedos longos. Nos ombros, um xale branco de lã sobre vestido de algodão multicolorido próprio das ciganas andaluzas, seu traje de toda hora, limpo, sem manchas.
No inverno, cobria a cabeça com um véu azul claro tricotado ou uma boina da mesma cor, ainda mais protegida por capote púrpura de feltro grosso sob o xale branco de lã.
– O Arcanjo Gabriel me aparece, reconforta minha desvalida sorte e voo nas suas asas. Visitamos os conventos de minhas santas Carmelitas Descalças. Em Ávila, encontramos Madre Teresa que sempre nos recebe bem.
Descrevia cada uma das cidades visitadas, os telhados das casas, as antigas muralhas, os castelos, as igrejas, os costumes de cada lugar, peculiaridades do povo, como se viesse de lá a cada manhã, após seu voo com os anjos; cenários, fatos e feitios populares tantas vezes confirmados por alguém que antes também visitara a dita cidade onde Juana então dizia que estivera na companhia de anjos.
Os mais crentes ouviam cientes de que presenciavam uma bênção de Deus.
– Milagre, sim! – alguém confirmava.
– Sei não... quem sabe? Será? – ou interrogava.
– Só Deus sabe... – outro ponderava.
Já os descrentes – havia alguns – se riam sem fé, não menos apreciavam ouvir as histórias da pedinte.
Após cada aventura contada, todos se ajoelhavam em oração à Virgem Maria, quando Juana Calancha estendia suas mãos de dedos longos e moedas, frutas, pães, linguiças e legumes, até vinhos, iam para a cesta que antes ela trouxera vazia do convento em que morava.
Com a cesta agora plena de doações, ia ao encontro das freiras Carmelitas Descalças...
... e a um novo voo com seus anjos sob as estrelas da noite, a lua iluminada, tantos imaginavam que assim acontecia.
Se chovia, ela não saía durante o dia, quando muitos se ressentiam de sua ausência nas ruas e na pracinha em Beas de Segura.
Sabiam que antes ela vivera em Granada, pedira esmolas em Córdoba, Sevilha e noutras cidades de Andaluzia. Que vagara por diversas províncias do reino até mesmo passara por Madrid. Que era pedinte ao alcançar Ávila, sendo na ocasião apadrinhada por Madre Teresa de Jesus, a Superiora Geral da Ordem das Carmelitas Descalças, que a levou para viver em Beas de Segura, na província de Jaén.
Entretanto, triste intriga de maledicentes sussurros, comentários de intrigantes no povoado – sempre há uns e outros em todos os lugares – insistiam que Juana Calancha nascera em Évora e viera de Portugal para as terras de Espanha.
Comentavam à voz pequena que, quando bela moça, ela se afeiçoara a um rico judeu eborense a quem servira e concedera prazeres até a prisão desse seu desditoso amado por religiosos inquisidores de Lisboa.
Condenado pela intolerância religiosa, esse senhor judeu teve sua fortuna confiscada e foi enfim queimado vivo num Auto de Fé por determinação de padres do Santo Ofício lusitano, numa praça defronte às ruínas de um templo romano em Évora.
Era o que intrigavam alguns tipos em Beas, por mais que muitos no vilarejo reagissem contra a infâmia.
Tais cidadãos contavam sem alarde que o rico judeu português de Évora, ciente de sua má sorte, antes da prisão passara a Juana uma arca cheia de ouro e prata, para que ela não carecesse de suprimentos na vida...
...e que, diante das chamas da Santa Inquisição, a desfeliz, enlouquecida pela triste sina de seu protetor, perdera o destino da arca com a fortuna herdada, arca antes bem guardada em algum lugar esquecido por ela agora insana...
...que a demente, na ocasião, fugira às pressas de Évora para Badajoz nada distante, cidade da Estremadura espanhola...
...e que desde então se tornara pedinte de rua no reino de Espanha, sem sua arca herdada, sem seu ouro e sua prata.
Era o que alguns poucos no povoado diziam dela, admitindo que talvez Juana Calancha soubesse o destino dessa dita arca, segredo escondido em sua lembrança pouco sã e temerosa de retornar a Évora, em Portugal.
Essa história de maledicentes, tantas vezes sussurrada no vilarejo de Jaén, era não menos contestada por tantos outros moradores em Beas...
...a bem da verdade história bastante controversa que certamente contrariava as freiras do Convento das Carmelitas Descalças de Beas sempre desmentindo a maldosa crença que crescia e encontrava ouvidos atentos nas conversas à boca pequena do lugarejo.
Em meio a tamanha intriga e cientes da mais precisa verdade, as freiras esclareciam que a pobre mendiga, para bem dizer, nascera cristã em Arenas del Rey, pequena aldeia nas proximidades da cidade Granada, Andaluzia.
Garantiam que Juana não fazia mal a ninguém, abençoada que fora por Madre Teresa de Jesus, em Ávila, pois, se em êxtase a Madre conversava com o próprio Cristo, igualmente bastante se encantara com as histórias dos anjos contadas pela pedinte.
Adiantavam ainda que os tais anjos de Juana Calancha eram não mais do que sonhos, reconfortos para a sua existência infeliz.
Teimavam as freiras do convento de Beas...
...enquanto, nas ruas e pracinha do vilarejo, Juana Calancha, indiferente às malfadadas controvérsias que circulavam a seu respeito, sem qualquer arca com ouro e prata, prosseguia semeando encontros com seus divinos mensageiros do Paraíso de Deus, contando suas histórias de viagens noturnas por províncias, cidades, aldeias espanholas, levada nas asas do Arcanjo Gabriel, do anjo Rafael e de outros tantos anjos, pedindo esmolas, moedas, pães, linguiças e legumes, até vinho, para o abençoado abrigo no Convento da Ordem das Carmelitas Descalças, em Beas de Segura.
Acontece que a dita calúnia, antes apenas sussurrada no lugarejo, com o passar do tempo pegou estrada para além do povoado e até mesmo alcançou Madrid, onde despertou interessada atenção de três homens agigantados com modos de verdugos e olhares de carrascos. Tipos metidos em pesadas batinas escuras, calçados com soturnas botas de couro cru e protegidos por grandes capuzes, que assustavam quem os via quando se diziam frades da Santa Inquisição espanhola.
Atraídos pela boataria a respeito da pedinte de Jaén e viajando desde a capital do reino em nobre carruagem de quatro cavalos, os tais religiosos chegaram a Beas de Segura numa triste manhã de outono no ano de 1581.
Estacionaram a carruagem defronte a igreja do povoado. De imediato, sem qualquer precaução ou cerimônia, foram ao encontro de Dom Pepe Pereda, o vigário do povoado.
Apresentaram-se como inquisidores do Santo Ofício imbuídos da missão de esclarecer a controvérsia em torno das heréticas histórias contadas ao povo pela pedinte Juana Calancha, mulher de estranha origem, pecadora acobertada pelas freiras do convento de Beas.
– Pecadora, sim, Padre Pepe! Sabemos da convivência indecente dessa infeliz com um judeu de Évora, homem condenado pela Santa Inquisição lusitana. Maldito excomungado que antes de morrer nas chamas passou à amante uma grande arca com ouro e prata, vasta riqueza que essa Juana deve ter escondida com ela, se é que não deu às freiras ou aos demônios toda essa fortuna, aos anjos fingidos que ela diz encontrar todas as noites. Há de ser punida para a salvação de sua alma – adiantou um dos três inquisidores de Madrid.
Padre Pepe Pereda ponderou com o que sabia.
Afirmou que Juana nascera cristã em Arenas del Rey, perto de Granada...
...que tais anjos eram apenas sonhos da pobre mulher para compensar sua vida dolorosa...
...que ela não possuía nem doara qualquer arca com ouro e prata, muito menos vivera em Évora amasiada com um rico judeu...
...que isso era maledicência, intriga de gente malvada...
...que Juana Calancha sempre se confessava com ele e frequentava as missas de domingo na igreja de Beas.
– As bruxas agem com dissimulação a serviço do diabo. Não seja tolo nem nos engane com falácias, Padre Pepe – reagiu outro dos inquisidores em tom contrariado.
Já o terceiro inquisidor imediatamente impôs de vez a razão da presença deles no povoado.
Adiantou que traziam mandado legal, ordens do Cardeal de Madrid e de Sua Majestade o rei Felipe II, para investigar a sabida heresia praticada pela malfadada bruxa.
– Não existe heresia nem bruxa! – revidou Padre Pepe Pereda, logo interrompido por um outro inquisidor.
– Ela é herética, Padre! Parceira do demônio. Dona de rica fortuna em ouro e prata com o que seduz muita gente boa. Até mesmo as freiras de Madre Teresa de Jesus! E não será o senhor quem irá nos desdizer. Cuide de colaborar conosco. Não seja cúmplice da pecadora!
Ameaçado, Padre Pepe entregou a chave do grande salão subterrâneo de sua igreja aos três inquisidores do Santo Ofício, onde Juana Calancha deveria ser interrogada e julgada.
Em seguida os acompanhou ao Convento das Carmelitas Descalças de Beas, a quem os três religiosos da Santa Inquisição expuseram seus propósitos no povoado.
Adiantaram que cumpriam ordens do Cardeal de Madrid e de Sua Majestade, o cristianíssimo Felipe II, rei de Espanha, senhor de vastas terras em novos mundos e, desde há um ano, também rei de Portugal...
...que assim lhes cabia fazer o que deviam, investigar que bruxaria era essa, a presença em Beas de Segura de uma pedinte nas ruas contando que era visitada por anjos, mulher pecadora que fora amante de um judeu em Évora, sujeito há tempos condenado à morte pelo Santo Oficio, desditoso infiel que passara à bruxa uma arca com vasta fortuna em ouro e prata...
...bruxa atualmente hospedada sob a proteção do convento...
...enfim, reafirmaram que, por ordens da Santa Inquisição e anuência real lhes cabia interrogar, julgar, sentenciar e salvar a alma perdida da malfadada mulher sabidamente visitada por farsantes demônios metidos em peles de anjos.
As freiras imediatamente negaram todas as aventadas acusações feitas pelos três inquisidores recém-chegados da capital do reino.
Expuseram com firmeza tudo o que elas sabiam a respeito de Juana Calancha, mulher abençoada por Madre Teresa de Jesus, em Ávila de los Caballeros, pobre crente em Deus e nascida cristã em Arenas del Rey, aldeia próxima de Granada, na Andaluzia.
Desmentiram a caluniosa história das ligações amorosas da pedinte com um judeu de Évora e, com ênfase, afirmaram que não existia essa referida arca de fortuna em ouro e prata.
– Padre Pepe Pereda, nosso vigário, é testemunha de que Juana Calancha é inocente de todas as acusações que senhores fazem contra ela. Não é bruxa nem herética, sendo uma pobre mulher crente em Deus. Nossa Prioresa, Madre Teresa de Jesus, em Ávila, lhes dirá o mesmo – completou a Superiora do convento.
Testemunho solicitado e concedido pelo vigário do lugarejo, mas que os três inquisidores ignoraram.
Convocaram, prenderam e passaram a interrogar Juana Calancha no porão da igreja de Beas, desde o dia seguinte de suas presenças ao povoado, sem a mínima atenção que fosse às considerações do vigário e das freiras do lugar.
Durante os interrogatórios, que duraram uma semana, cuidaram de calar, sob ameaça de excomunhão por aliança demoníaca com a maldita ré, algumas ousadas vozes do povoado ansiosas por defender a pobre pedinte das acusações que pesavam contra ela.
Também impuseram intransigentes restrições ao vigário local e às carmelitas de Beas. A estas ordenaram que guardassem fervoroso silêncio no convento, mantendo-se em oração permanente sem sair às ruas. Em caso de desobediência, seriam consideradas heréticas protetoras de uma bruxa infernal.
Inteirados das historias contadas pela própria Juana Calancha, os seus encontros com os anjos e suas viagens pelo reino, concluíram os inquisidores que a pedinte era deveras uma sedutora feiticeira a serviço de demônios do Inferno.
Mostraram-se convencidos de que os ditos anjos não passavam de maus espíritos disfarçados, atraídos pela bruxa com evidentes propósitos de corromper a fé cristã do povo.
Em meio a dolorosas sessões de tortura impuseram a Juana uma clara confissão pública dessas infernais maldades.
Com especial insistência exigiram dela que lhes revelasse onde escondera a arca com a fortuna em ouro e prata do maldito judeu português que fora seu amante em Évora.
Sob tortura, se a princípio Juana Calancha negou com gritos por dor atroz a perversa denúncia, após noites e dias de violentos interrogatórios, ela por fim confessou que, ainda em Évora, Portugal, antes de fugir para Espanha, derretera todo o ouro e a prata da arca herdada e que em seguida bebera a fortuna derretida.
Confissão logo desacreditada por seus inquisidores, cientes e mais crentes de que tal ouro e prata deveras existia e em algum lugar haveria de estar.
– Bruxa maldita! Se quer o perdão de Deus, confesse a verdade, livre sua alma do fogo eterno! Onde guarda a arca do tesouro? Nos passe o seu ouro e a sua prata – prosseguiram os severos padres com as torturas.
Em pleno delírio, a infeliz reagia:
– Quem quer o meu ouro? Quem deseja minha prata? O rei? O Cardeal, em Madrid? Eu não tenho ouro nenhum! Não tenho, não tenho, não tenho! Nem prata, nem prata, nem prata! Malditos! Malditos! Não tenho! Não tenho! – gritava invadida pelas dores da tortura.
– Não minta, perversa feiticeira! Cínica pecadora! Escrava do demônio! Diga! Confesse! Diga! Onde guarda a arca do judeu? – insistiam os inquisidores do Santo Ofício, no porão da igreja de Beas, com chicotadas e ferros em brasa ferindo o corpo nu de Juana amarrada e de olhos vendados diante deles.
Entregue à dor infinita, já plenamente insana, Juana Calancha adiantou que passara a cobiçada riqueza a São Gabriel, ao Arcanjo Rafael e aos demais anjos que apadrinhavam suas noites no povoado.
– Aos demônios! Aos demônios! Foi a eles que você passou a fortuna do judeu? Confesse? – teimavam seus torturadores, sem obter a desejada arca.
– Aos anjos! A meus anjos! Aos demônios, não! Aos anjos! A meus anjos! – Juana respondia, sem mais o que dizer.
Dias após tão intenso sofrimento, Juana Calancha, a olhos vistos extremamente machucada, foi levada à fogueira, onde ardeu até sua completa extinção, queimada na pracinha do vilarejo, diante de todo o povo em lágrimas, reunido para assistir ao Auto de Fé em obediência à ordem dos sentenciadores da condenada, os severos padres da Santa Inquisição, caso contrário o povoado e sua gente seriam amaldiçoados, excomungados pela Igreja.
Ordem dada pelos três inquisidores, um tanto antes de saírem de Beas com destino a Madrid na mesma carruagem que os levara ao lugarejo, os três agora com os rostos mais encobertos por seus capuzes, preocupados com possível reação popular.
(Viagem de volta a Madrid – vale contar – que não se completou conforme pretendida, pois, no percurso da estrada de retorno, ainda na província de Jaén, os três religiosos foram cercados e mortos...
...dizem uns, por gananciosos bandoleiros que, em vão, pretendiam lhes roubar o dito tesouro, o ouro e a prata da arca de Juana Calancha...
...ou, conforme outros – sabida a notícia – passaram a comentar à boca pequena no povoado afirmando que os três inquisidores haviam sido mortos por gente de Beas – ninguém bem sabia quem ou não ousava dizer quem – num ato de vingança devida à perversidade cometida contra desfeliz Juana.)
Durante o Auto de Fé, no correr do dia, as freiras – também cumprindo ordens – permaneceram no Convento das Carmelitas Descalças em oração orientada por Frei Juan de San Matias, Superior da Andaluzia e pároco do Mosteiro do Calvário, nos montes da província de Jaén...
...(no porvir, canonizado santo, com o nome de São João da Cruz, intenso poeta místico e doutor da Igreja)...
...frade abençoado que fora a Beas de Segura atendendo a pedido de Madre Teresa de Jesus (naqueles dias extremamente doente em Ávila) com a missão de apaziguar a dor das freiras Carmelitas Descalças em meio à tragédia que acontecia.
(A Prioresa da Ordem das Carmelitas Descalças, bastante enferma, morre no ano seguinte. Sem maior demora será canonizada Santa Teresa d’Ávila, Patrona de Espanha, Doutora da Igreja.)
Consta que durante a noite, após cumprida a sentença do Auto de Fé, com as carnes e os ossos da supliciada vertidos em pó, um vento agitado e forte, vindo de poderoso e barulhento sopro, invadiu o vilarejo por suas ruelas e alcançou a praça em Beas de Segura.
Estranho instante que trouxe às pressas do Convento para a pracinha local as freiras carmelitas, na companhia de Frei Juan de San Matias e do povo do lugarejo, quando perceberam, mesmo na escuridão daquela noite sem estrelas e sem lua, que a ventania vinha do bater das asas de verdadeira multidão de anjos, serafins e querubins levando às nuvens e bem mais além das nuvens, desde o chão das chamas, as cinzas de Juana Calancha...
...o que acontecia – uns creem, outros não – conforme o desejo de Deus...
...bênção que a pedinte de Jaén previra ao ser encaminhada para o cumprimento da sentença no Auto de Fé:
– Meus anjos virão me buscar! Virão me buscar! Virão, sim! Meus anjos...
Longa história que, nos anos 50 do século passado, em Mimoso do Sul, Espírito Santo, contava a seus netos Inocência, minha avó, espanhola de Arenas del Rey, aldeia natal de Juana Calancha.
Faz tempo.
Lembro bem.
Impossível esquecer.
José Arrabal é capixaba de Mimoso do Sul, ES, escritor, jornalista e professor, autor de romances, contos e ensaios publicados no Brasil e no exterior, membro-correspondente, em São Paulo, da Academia Espírito-santense de Letras.